Eriksholm: The Stolen Dream é uma experiência narrativa e tática que se destaca pela sua atmosfera melancólica, jogabilidade inteligente e direção de arte refinada. Desenvolvido pela River End Games, um estúdio sueco formado por veteranos da indústria, o jogo mergulha o jogador em uma cidade fictícia inspirada na Escandinávia do início do século XX, onde o vapor, a decadência industrial e o controle estatal se entrelaçam em uma trama densa e emocional. A protagonista, Hanna, acorda de um coma causado pela misteriosa Praga do Coração e descobre que seu irmão desapareceu. A partir daí, ela se junta a uma pequena resistência urbana e embarca em uma jornada de investigação e sobrevivência, enfrentando patrulhas opressoras, dilemas morais e segredos enterrados sob os paralelepípedos da cidade.
A jogabilidade é baseada em furtividade isométrica, exigindo observação cuidadosa, planejamento e execução precisa. Cada fase funciona como um diorama interativo, onde o jogador deve estudar rotas de patrulha, usar o ambiente para se esconder, distrair inimigos e resolver pequenos quebra-cabeças ambientais. Os personagens jogáveis Hanna, Alva e Sebastian possuem habilidades distintas que se complementam, como apagar luzes, escalar superfícies ou usar zarabatanas tranquilizantes. O jogo não oferece combate direto, e ser detectado pode significar reiniciar a fase, o que reforça a tensão constante e a necessidade de precisão. A IA dos inimigos é competente, embora ocasionalmente apresente comportamentos previsíveis, o que pode ser explorado por jogadores mais experientes.
Visualmente, Eriksholm é um espetáculo discreto. A cidade é viva, decadente e cheia de personalidade, com uma estética steampunk que evita exageros e reforça o contraste entre avanço tecnológico e miséria social. A trilha sonora é sutil e atmosférica, composta por sons ambientes e melodias discretas que intensificam a sensação de isolamento. A dublagem é de alta qualidade, e os diálogos revelam nuances emocionais que aprofundam a conexão com os personagens. A narrativa se desenrola de forma orgânica, sem interrupções abruptas, e os temas abordados como desigualdade, repressão e identidade — são tratados com maturidade e sensibilidade.
Apesar de sua qualidade geral, o jogo não está livre de falhas. Alguns bugs visuais, colisões problemáticas e travamentos ocasionais foram relatados, especialmente em momentos críticos.
A campanha tem duração média de 8 a 10 horas, podendo se estender para até 12 se o jogador buscar todos os segredos e finais alternativos. Não há modo multiplayer, mas a experiência solo é rica o suficiente para justificar múltiplas jogadas.
Eriksholm: The Stolen Dream não tenta agradar a todos, e isso é parte de seu charme. É uma obra autoral, feita com paixão e atenção aos detalhes, que recompensa jogadores pacientes e atentos com uma jornada memorável e intimista. Para quem aprecia furtividade, narrativa profunda e ambientação rica, é uma escolha certeira.