Grit and Valor 1949 é uma experiência singular que mistura estratégia em tempo real com elementos de roguelite, ambientada em um universo dieselpunk alternativo da Segunda Guerra Mundial. Desenvolvido pela Milky Tea Studios, o jogo se destaca por sua proposta ousada: reimaginar o conflito global com mechs gigantes, tecnologia avançada e uma estética que remete aos quadrinhos pulp da década de 40. A narrativa se passa em uma Europa dominada pelas forças do Eixo, que, graças ao uso de máquinas de guerra colossais, conseguiram subjugar até mesmo o Reino Unido. O jogador assume o papel de comandante de uma célula rebelde isolada nas Terras Altas da Escócia, que conseguiu capturar alguns desses mechs e agora planeja uma ofensiva desesperada para entregar uma arma EMP capaz de virar o jogo.
A ambientação é um dos pontos altos do jogo. A estética dieselpunk é aplicada com consistência, desde os designs dos mechs até os cenários urbanos e rurais devastados pela guerra. A narrativa é contada por meio de painéis de quadrinhos estilizados, com diálogos dramáticos e personagens caricatos, como o comandante britânico que mistura arrogância e patriotismo em doses iguais. Essa escolha estilística reforça o tom pulp da obra, evocando histórias de resistência heroica e missões suicidas contra um inimigo aparentemente invencível.
A jogabilidade é dividida em duas partes principais: o hub central e os campos de batalha. No hub, o jogador pode gerenciar sua equipe, melhorar os mechs, desbloquear novas habilidades e planejar a próxima missão. Já nos campos de batalha, o jogo se transforma em uma arena tática onde o posicionamento, o uso inteligente de habilidades e a composição da equipe são cruciais. Embora os ataques sejam automáticos, o jogador precisa garantir que seus mechs estejam em posição vantajosa, com linha de visão e cobertura adequada. O sistema de combate é baseado em tipos de dano — balístico, explosivo e incendiário que funcionam em uma lógica de pedra-papel-tesoura. Isso exige atenção na hora de montar a equipe, já que enfrentar um inimigo com resistência ao tipo de dano predominante pode significar derrota certa.
Como roguelite, Grit and Valor 1949 impõe uma progressão desafiadora. Cada campanha é composta por uma série de batalhas consecutivas, e a derrota em qualquer uma delas força o jogador a recomeçar do início. No entanto, há um sistema de desbloqueios permanentes que permite melhorar gradualmente os recursos disponíveis, como novos mechs, habilidades passivas e melhorias de armamento. Essa progressão é bem calibrada: o jogo recompensa a persistência e o aprendizado, e cada nova tentativa traz uma sensação de avanço, mesmo que pequena. A variedade de mapas, inimigos e condições climáticas que afetam a visibilidade e o desempenho dos mechs contribui para manter a experiência fresca e desafiadora.
Visualmente, o jogo adota um estilo minimalista, mas funcional. Os mapas são bem distintos entre si, com variações de terreno que influenciam diretamente a estratégia. Os mechs têm designs variados, embora não particularmente inovadores, e os efeitos visuais das habilidades são satisfatórios, com explosões, rajadas de fogo e impactos que transmitem bem o peso das máquinas. A trilha sonora é discreta, mas eficaz, com temas que reforçam o clima de tensão e urgência. Os efeitos sonoros, como os passos pesados dos mechs e o som metálico das armas, ajudam a criar uma atmosfera imersiva.
Grit and Valor 1949 é uma proposta original e bem executada, que consegue unir estratégia, narrativa e desafio em um pacote coeso. Para fãs de jogos táticos, ambientações alternativas da Segunda Guerra e mechs gigantes, é uma experiência que vale a pena. A mistura de estética pulp, mecânicas roguelite e combate estratégico cria uma identidade própria, e mesmo com suas limitações, o jogo consegue se destacar em um gênero saturado. É uma guerra difícil, mas cheia de estilo e personalidade.
Grit and Valor 1949 na versão para PlayStation VR2 é uma reinvenção ousada e imersiva de um jogo que já se destacava por sua proposta original. Se na versão tradicional ele já oferecia uma mistura envolvente de estratégia em tempo real com elementos roguelite, no PS VR2 essa experiência ganha uma nova dimensão — literalmente. A ambientação dieselpunk, os mechs colossais e a narrativa pulp ganham vida em um formato que transforma o jogador de mero espectador em comandante de guerra, com controle direto sobre o campo de batalha como se estivesse manipulando uma maquete viva.
A história continua ambientada em uma Europa alternativa de 1949, onde as forças do Eixo, lideradas pelo vilanesco Doutor Z, dominam o continente com o uso de mechs brutais e soldados geneticamente modificados. A resistência, reduzida a uma célula isolada na Escócia, planeja uma ofensiva desesperada: escoltar uma arma EMP até o coração da Alemanha para desativar a infraestrutura inimiga. Essa narrativa, apresentada em cenas de quadrinhos estilizados e diálogos dramáticos, mantém o tom pulp e direto, com vilões caricatos e heróis determinados. É simples, mas eficaz e no VR, essas cenas ganham profundidade e estilo cinematográfico que reforçam a imersão.
A grande diferença na versão PS VR2 está na forma como o jogador interage com o jogo. Em vez de clicar em unidades ou mover ícones em uma tela plana, você literalmente se inclina sobre o campo de batalha, como um general observando uma mesa de guerra. Os mapas são apresentados como dioramas detalhados, e os mechs são manipulados com as mãos você os pega, posiciona, e vê suas animações ganharem vida enquanto marcham para o local designado. Essa mecânica é intuitiva, embora exija um pequeno período de adaptação, especialmente para alinhar corretamente os controles de movimento e entender como girar ou ajustar o terreno. Mas uma vez dominada, ela transforma completamente a sensação de comando: você não está apenas jogando, está encenando uma guerra em miniatura.
O sistema de combate continua baseado em tipos de dano balístico, explosivo e incendiário — com vantagens e desvantagens entre si. A estratégia permanece essencial: escolher a composição correta de mechs, posicioná-los com inteligência, aproveitar o terreno e ativar habilidades especiais no momento certo. O VR intensifica essa dinâmica ao permitir que você observe os combates de ângulos diferentes, identifique ameaças com mais clareza e reaja com mais agilidade. A sensação de urgência é amplificada, especialmente porque o jogo mantém sua estrutura roguelite: cada derrota significa recomeçar, mas com desbloqueios permanentes que fortalecem sua equipe para futuras tentativas.
A progressão é bem calibrada. Entre as missões, você retorna ao hub central, onde pode melhorar seus mechs, desbloquear novas tecnologias, treinar pilotos e planejar a próxima investida. No PS VR2, esse espaço também é interativo, permitindo que você explore visualmente os upgrades e examine os detalhes das máquinas que está desenvolvendo. A sensação de evolução é reforçada por efeitos visuais e sonoros que celebram cada conquista, tornando o ciclo de tentativa e erro mais gratificante.
Visualmente, o jogo se beneficia do poder gráfico do PS VR2. Os modelos dos mechs são detalhados, os mapas têm texturas ricas e os efeitos de luz e sombra ajudam a criar uma atmosfera tensa e envolvente. A trilha sonora continua discreta, mas os efeitos sonoros como os passos metálicos, explosões e vozes dos personagens — são mais impactantes no VR, contribuindo para a imersão. A performance é estável, com tempos de carregamento rápidos e resposta precisa aos comandos, o que é essencial em um jogo que exige decisões táticas em tempo real.
No entanto, vale destacar que Grit and Valor 1949 não é para todos. A combinação de RTS com roguelite exige paciência, planejamento e disposição para falhar e tentar novamente. Jogadores que preferem experiências mais lineares ou menos punitivas podem se frustrar. Além disso, embora o VR traga uma nova camada de interatividade, ele também exige mais fisicamente do jogador — especialmente em sessões longas, onde o ato de manipular unidades e girar o mapa pode se tornar cansativo.
Em resumo, Grit and Valor 1949 no PlayStation VR2 é uma evolução marcante de um jogo já criativo. Ele transforma uma boa ideia em uma experiência tátil, imersiva e estratégica, que coloca o jogador no centro da ação como nunca antes. Para fãs de estratégia, mechs e ambientações alternativas da Segunda Guerra, é uma experiência que vale cada tentativa — e cada derrota. Afinal, como o próprio jogo sugere: o que te mata, te fortalece.