Lia: Hacking Destiny, do estúdio brasileiro Orube Game Studio, é um roguelite 2D em pixel art que abraça o ritmo frenético e a montagem de builds como coração da experiência. Ambientado em uma Terra pós-apocalíptica dominada por máquinas e pela corporação MegaCorp, ele veste seu tema com clareza: você é a fagulha de resistência que precisa aprender a lutar, hackear e reacender a esperança em ciclos de tentativa e erro. É um jogo que se apresenta como porta de entrada ideal para quem quer descobrir o gênero sem abrir mão de profundidade, apoiando-se em controles responsivos, progressão inteligível e um sistema de melhorias que dá gosto de explorar e refinar a cada run.
A apresentação visual aposta em pixel art expressiva, com cenários que sugerem ruína industrial, desertos tecnológicos e bairros sufocados por vigilância robótica, tudo pontuado por efeitos de partículas e cores saturadas que ajudam a comunicar legibilidade em combate. As animações dos inimigos têm leitura limpa, e os telegrafados de ataque são justos sem tornarem o jogo previsível — há espaço para dominar padrões e para ser surpreendido quando entra uma nova modificação ou subchefe. O design dos personagens mantém uma silhueta clara para a protagonista e para as unidades da MegaCorp, diferenciando bem classes de inimigos por forma e paleta. É um jogo que sabe quando detalhar e quando simplificar, sempre a serviço da ação. Essa direção artística alinha-se com a tradição do estúdio, conhecido por trabalhos carismáticos e caprichados como Super Mombo Quest, e aqui o polimento visual serve à jogabilidade, evitando ruído e privilegiando leitura rápida do que está acontecendo na tela.
A história é apresentada em doses curtas entre runs, e funciona como pano de fundo motivador sem tentar carregar o jogo nas costas com longos diálogos. O mundo dominado por máquinas e humanos caçados por patrulhas opressoras cria um senso de urgência que combina com o loop roguelite. Lia não é apenas uma guerreira: ela hackeia sistemas, manipula rotas de energia, reprograma drones, e esse conjunto é traduzido em mecânicas como modificadores temporários, habilidades cibernéticas e interações com terminais que podem alterar a dinâmica de uma sala. Não é um jogo que vai te prender por uma trama complexa, e ele não precisa a narrativa serve para dar textura ao risco/recompensa de cada decisão tática e ao sentimento de “mais uma” após cada derrota, sugerindo que cada tentativa é também mais um passo contra a MegaCorp.
No controle, Lia: Hacking Destiny valoriza velocidade, precisão e clara diferenciação de builds. O núcleo de combate mistura armas letais de curto e médio alcance com habilidades de mobilidade e hacks situacionais. Há um prazer imediato em conectar dashs com janelas i-frames e cancelar animações para emendar combos, mas o jogo evita virar um puro “reflexo” ao te empurrar constantemente para escolhas de build: dano bruto versus status, cadência versus alcance, sustentabilidade versus explosão. A cada run, o jogo oferece power-ups e upgrades que transformam sua abordagem — desde sinergias óbvias, como crítico + multiplicadores de tiro, até combinações menos aparentes que emergem de perks de hack e efeitos ambientais. O resultado é um roguelite de alto ritmo em que a sensação de progressão não depende exclusivamente de meta-progresso; aprender a compor um bom kit, a ler salas e a priorizar alvos é tão importante quanto destravar novos recursos entre sessões.
A geração de mapas e salas segue um equilíbrio saudável: variedade suficiente para evitar déjà-vu rápido, mas com módulos reconhecíveis que permitem aprender layouts e explorar rotas de risco controlado. Em algumas runs, você vai encontrar arenas que clamam por domínio de projéteis e posicionamento; em outras, corredores com armadilhas que premiam paciência e uso inteligente de hacks. Os encontros com subchefes e chefes costumam introduzir mecânicas que depois reaparecem diluídas em salas comuns, o que ajuda a treinar o jogador sem tutoriais longos. E quando falamos em dificuldade, o jogo mira “justo e exigente”: punir erro sem parecer arbitrário, com espaço para recuperações heroicas quando uma sinergia de build encaixa no momento certo. É, de fato, um design pensado para quem está começando no gênero, mas sem subestimar quem já tem quilometragem em roguelites.
O áudio acompanha a urgência visual com trilhas que mesclam sintetizadores nervosos e batidas que crescem conforme a run avança, reforçando o compasso de combate e exploração. Os efeitos sonoros comunicam muito: ruídos distintos para projéteis, confirmações claras de acerto crítico, avisos para ataques inimigos mais perigosos. E o destaque para quem joga em português é a dublagem brasileira completa, que dá identidade à protagonista e aos antagonistas sem soar caricata, elevando a imersão e tornando o jogo mais acolhedor para o público nacional. Essa escolha de acessibilidade não é cosmética; ela ajuda novos jogadores a entenderem rapidamente objetivos e ferramentas, alinhando narrativa e mecânica com uma camada de clareza sonora.
No Switch, a questão do desempenho é especialmente relevante, e aqui o jogo se mostra competente. Em modo portátil, a nitidez do pixel art se mantém, e a taxa de quadros é estável o suficiente para preservar responsividade em combates intensos, algo vital em roguelites de alta cadência. A leitura dos elementos na tela é boa mesmo no display menor, e o esquema de controles é intuitivo nos Joy-Con e no Pro Controller, inclusive com mapeamento que facilita o acesso rápido a hacks e habilidades sem comprometer movimentos básicos. O tempo de carregamento entre salas e runs é contido, mantendo o ritmo sem quebras. É o tipo de porte que entende que, no Switch, fluidez e legibilidade importam mais do que efeitos extravagantes, e entrega exatamente isso.
Em termos de conteúdo e longevidade, Lia: Hacking Destiny aposta em variedade de armas, modificadores e perks para manter runs frescas, além de inimigos que mudam a forma como você se movimenta e prioriza alvos. O meta-progresso existe, mas não sequestra o sentido de conquista da run: você sente que melhorou pelo que aprendeu e pelas escolhas feitas, não apenas por números crescentes. Para o jogador dedicado, há espaço para “quebrar” o jogo com sinergias fortes e também para runs de desafio que forçam opções menos confortáveis, evitando que a experiência se torne trivial quando se domina um punhado de builds. Ainda que algumas pessoas possam desejar mais biomas ou eventos raros, a base já é robusta e, como porta de entrada ao gênero, a consistência vale mais do que amplitude indiscriminada.
O equilíbrio entre acessibilidade e profundidade é o traço mais inteligente do design. Mesmo quando você falha, o jogo comunica o porquê: um telegráfico ignorado, um posicionamento ganancioso, uma sinergia incompleta. Isso treina melhor do que qualquer tutorial longo. Ao mesmo tempo, para jogadores avançados, há habilidades e hacks que podem ser explorados com precisão milimétrica, permitindo runs que parecem dança coreografada em cenários cheios de projéteis. A sensação de domínio cresce organicamente, e a curva de aprendizagem favorece tanto quem está chegando quanto quem já procura otimização séria.
No panorama geral, Lia: Hacking Destiny se destaca por unir identidade brasileira, execução técnica sólida no Switch e um entendimento claro do que torna roguelites atraentes: escolhas significativas, loops curtos e satisfatórios, e combate afiado suportado por visual limpo e áudio caprichado. Para quem quer entrar no gênero, ele é acolhedor sem ser simplório. Para quem já é fã, oferece espaço para explorar builds poderosas e rotas de risco com recompensa. E para quem valoriza apresentação e dublagem no nosso idioma, é um gesto de cuidado que amplia a conexão com o jogo. Somando o cenário pós-apocalíptico opressivo da MegaCorp, a protagonista que hackeia seu destino literalmente e o polimento de gameplay, é uma recomendação fácil no Switch compacta, responsiva e feita para repetir “só mais uma” run com um sorriso travesso no rosto.
Por fim, vale mencionar que o lançamento do jogo foi amplo, contemplando múltiplas plataformas além do Switch, reforçando a ambição do projeto e a confiança do estúdio no seu apelo. A ideia central ser a faísca da resistência, lutar, hackear e reacender a esperança não é apenas slogan; ela se traduz em mecânicas que tornam cada tentativa uma pequena vitória na direção de um mundo menos dominado por máquinas. É um jogo que entende o que quer ser e, mais importante, entrega isso com consistência e carisma.







